23 de jun. de 2008

O poker e os vieses psicológicos

Estava lendo um livro sobre psicologia que falava de vieses que podem influenciar nosso julgamento. Sob efeito dessas distorções, acabamos por tomar decisões equivocadas. Enquanto lia cada uma das explicações, eu percebi que podemos ver a maioria delas acontecendo em um típico jogo de poker.
Se você não conhece o jogo, esse post pode não fazer sentido nenhum para você (ainda mais por que estamos falando da modalidade Texas Hold’em). Recomendo então que você aprenda a jogar com a sua avó, agende uma jogatina semanal e sofra à medida em que vai se endividando...
Após isso, junte-se àqueles que não são completamente ignorantes e veja como alguns vieses psicológicos ficam evidentes em um jogo de poker, e, quem sabe, acabe aprendendo alguma coisa:

- Viés do Excesso de Confiança: acontece quando superestimamos nossa capacidade de obter sucesso diante de uma situação. O interessante é que ele geralmente acompanha quem tem menor habilidade e experiência em determinado meio. No poker, um jogador experiente pode fazer uma aposta cautelosa com uma trinca, temendo que alguém tenha um straight, enquanto em outro caso um iniciante pode apostar demais em um par alto por achar que se trata de um excelente jogo. Algumas vezes, irritantes, por sinal, ele pode até sair ganhando. Porém, na maioria das vezes ele se dará mal (ou assim esperamos).

- Viés de Confirmação: ocorre quando procuramos, sem perceber, somente as evidências que confirmem alguma suspeita ou idéia que temos, ignorando outras informações. Quando ficamos pessimistas e começamos a resmungar pra nós próprios que o adversário conseguiu a carta que queria, vemos cada aposta dele como se fosse uma prova disso. Saiu o 8. Ele apostou alto. “Tá vendo? Ele completou a seqüência!”. Nesse momento, sofremos o viés de confirmação e esquecemos que, talvez, ele já tivesse apostando alto antes de a carta sair.

- Viés do Custo Irrecuperável: esse é uma praga no poker. Acontece quando investimos pesado em algo que acreditamos que trará retornos, e, apesar de surgirem evidências claras de que isso não seja verdade, continuamos insistindo como se nada tivesse mudado. Você começa com um par de ases. Ótimo. Aposta 400x. Um adversário paga. Tudo certo. Depois você aposta 800x, e ele aumenta para 1200x. “Esse cara tem alguma coisa melhor que o meu par... Mas já cheguei até aqui, fazer o quê. Pago”. Que feio. Você acaba de sofrer o viés do custo irrecuperável.

- Viés do Erro de Aleatoriedade: esqueça o que eu disse na explicação anterior. Não tudo, só a parte em que eu digo que se trata de uma praga do poker. O erro de aleatoriedade é a grande praga, na verdade. Engraçado que, se tratando de um texto digitado, eu poderia corrigir lá em cima... Mas do que se trata esse viés? Ele acontece quando vemos um sentido inexistente em acontecimentos totalmente aleatórios. Superstição, ou quase isso. Quando você recebe aquele 3 e 7, a sua “mão da sorte”, e aposta alto, é isso que você está cometendo.

- Viés da Compreensão Tardia: um exemplo: só agora, depois de escrever isso tudo, que eu compreendo que será inviável fazer um blog, porque eu escrevo demais. Na verdade não é isso, apesar de isso talvez ser verdade. O viés se constitui quando nos convencemos de que sabíamos o resultado de um evento, mas só depois de ele já ter ocorrido. Você tem uma trinca, e paga a aposta de um adversário. Ele mostra um flush. “Eu sabia que você tinha um flush...”, você diz. “Se sabia, por que pagou a aposta?”, digo eu. Apenas mais um caso de distorção pelo viés da compreensão tardia.

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